"Acredito que é uma boa novela, mas não fui eu que escolhi os actores"
Tozé Martinho, AUTOR DE 'DEI-TE QUASE TUDO'
Dei-te Quase Tudo tem o enorme desafio de substituir Ninguém Como Tu(NCT), o maior sucesso da ficção portuguesa nos últimos anos, comparável apenas aos seus Olhos de Água e a Anjo Selvagem. Sente a exigência?
Não! De facto, pese embora os méritos inegáveis de NCT, foi uma novela que não teve oposição de peso nos outros canais, o que lhe aligeirou a tarefa no combate das audiências. Além disso, fiz o melhor que pude e o melhor que sabia! Quando é assim... demos o que tínhamos para dar. Só quero acrescentar uma nota os Olhos de Água tinham pela frente na SIC o Rei do Gado!!!
O que vão encontrar os espectadores nesta novela?
Não sei muito bem! Não fui eu que escolhi os actores, ao contrário do que aconteceu em todas as outras novelas que escrevi, onde pude pontuar de forma eficaz. A distribuição de actores é uma componente vital no exito de uma novela. Além disso, alguns locais que recomendei também foram preteridos. Por outro lado, as indicações ao texto também foram grandes. Mas estou certo de que é uma boa novela e que vai agradar.
Ao apresentá-la como "a mais cara novela de sempre da TVI", José Eduardo Moniz elevou igualmente a fasquia. Isso preocupa-o ou estimula-o?
Eu tinha outras novelas mais baratas... e outras mais caras. Foi o Zé Eduardo Moniz que escolheu esta! Ainda bem! O Zé Eduardo Moniz é uma pessoa com sensibilidade para a ficção. Normalmente acerta! E isso é um estímulo, sim!
Para lá das audiências, a crítica foi unânime em reconhecer que NCT marcou uma viragem na qualidade da ficção portuguesa. Acha que há uma ficção antes de NCT e outra depois de NCT?
Que ideia! Também se disse isso de Todo o Tempo do Mundo (para mim, a melhor novela portuguesa - passe o elogio). Disse-se isso de Olhos de Água (que chegou aos 76% de share). Disse-se dos Jardins Proibidos... Enfim, disse-se isso de cada vez que apereceu um êxito!
Ao pensar esta história teve preocupações de natureza diferente do que é habitual?
Pensei na história e escrevi para a servir. Só isso.
Dei-te Quase Tudo demorou muito tempo a ser escrita. Há muito que se falava de A Bomba (o primeiro nome anunciado) e do seu regresso às novelas, com uma história que apela às memórias de África, tão caras para muitos portugueses. Quanto tempo demorou a pensar e a escrever a história?
Demorou o tempo habitual. Escrevi e representei o Amanhecer, depois participei como actor em Baía das Mulheres. Quando acabei, comecei a escrever A Bomba, agora baptizada Dei-te Quase Tudo. Não creio que tenha sido muito tempo. De facto, desde há séculos que somos sensíveis a África e a outros locais do mundo! Era bom que essa característica não se perdesse nunca. A ideia para esta novela chegou quando um dia me sentei para escrever o Amanhecer e estava naqueles dias em que não saía nada. Pois bem, abri um documento novo e como por artes mágicas começou a sair ABomba. Oxalá tenha sido em boa hora...
Para lá das habituais histórias de amor e traição, comuns a qualquer novela, Dei-te Quase Tudo vai viver muito da tensão política do 25 de Abril. Acha que este é um tema passível de fixar os espectadores?
Trata-se, não de tensões políticas do 25 de Abril, mas de questões que perduraram desde essa data e que era bom que se dirimissem todas e de uma vez por todas. Creio que o Zé Eduardo Moniz ficou encantado com esta novela e com a sua apresentação. Vamos lá a ver...
A sua novela vai concorrer directamente com uma nova aposta da Globo, muito bem sucedida no Brasil, e que conta com um dos mais fortes elencos dos últimos anos. Isso preocupa-o?
Isso preocupa!! Os brasileiros sabem fazer novela como ninguém! Acarinham e protegem actores e autores de uma forma esclarecida, são eles que fabricam os êxitos! Claro que isso me assusta deveras... embora às vezes diga que não. Então com aquele lote de actores e com aquele autor...